Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento
musical utilizado em cerimônias de religiões afro-brasileiras, como o candomblé
e a umbanda. O termo, porém, acabou se tornando uma forma pejorativa de se
referir a essas religiões - e, sobretudo, aos despachos feitos por alguns
seguidores (veja boxe). Na árvore genealógica das religiões africanas, macumba
é uma forma variante do candomblé que existe só no Rio de Janeiro. O
preconceito foi gerado porque, na primeira metade do século 20, igrejas
neopentecostais e alguns outros grupos cristãos consideravam profana a prática
dessas religiões. Com o tempo, quaisquer manifestações dessas religiões
passaram a ser tratadas como "macumba". Entenda nas próximas páginas
as diferenças entre os cultos de origem africana.
Gira no Congá
Cerimônia da umbanda
começa com defumação e termina com desincorporação dos médiuns
1. Para entrar no congá - onde rolam as cerimônias da umbanda -, o
público deve tirar os sapatos em respeito ao solo, que é sagrado. A cerimônia,
chamada de gira, começa à noite, por volta das 20 h, e, quando os fiéis chegam,
os médiuns já estão lá, incluindo o sacerdote
2. A preparação do congá, local onde ocorrem as incorporações das
entidades, começa com a defumação: ervas como alecrim são queimadas num
braseiro. O ritual, que purifica e passa energia, é acompanhado de ponto
cantado - todas as cantigas são chamadas de pontos na umbanda
3. Em seguida, o sacerdote ministra um tema de reflexão para o dia,
como faz o padre em uma missa católica. Também ocorrem a oração de abertura, os
pontos de abertura (que saúdam a umbanda), cânticos ao orixá regente (cada
orixá tem seu dia da semana) e a apresentação da linha de trabalho do dia
4. O passo seguinte é a saudação aos guardiões (Exu) e guardiãs (sua
versão feminina). Nesse momento, todos viram-se em direção à tronqueira, o
"altar" de Exu, do lado de fora do congá. Os fiéis saúdam,
reverenciam e pedem proteção aos guardiões que protegem o templo
5. Começa a batida dos atabaques e são entoados os pontos de chamada,
cânticos que invocam a linha de trabalho do dia. O sacerdote é o primeiro a
incorporar o orixá e, depois que tiver recebido sua entidade, comandará os
trabalhos, conduzindo a incorporação dos médiuns
6. Cada médium incorpora só uma entidade (entre orixás e humanos,
como o Preto Velho e o Caboclo), mas a mesma entidade pode se repetir - é
possível ter dezenas de Pretos Velhos num mesmo terreiro. Após todos
incorporarem, ocorre o atendimento ao público
7. Ao final do atendimento, é entoado o ponto de subida, canto que
embala a desincorporação dos médiuns. Em seguida, é feita uma prece final de
encerramento, e a gira termina por aquela noite.
Despacho na
encruzilhada
Nem sempre oferenda é
indício de magia negra
Os despachos nos cruzamentos ganharam fama de "macumba"
porque são uma das expressões mais visíveis dessas religiões fora dos templos.
Mas, na verdade, eles são oferendas para o orixá Exu, geralmente pedindo
proteção. São colocados em encruzilhadas porque esses lugares representam a
passagem entre dois mundos. Existem, sim, despachos feitos para fazer mal aos
outros (mais no candomblé, onde não existe distinção entre o bem e o mal,
diferentemente da umbanda), mas nenhuma das religiões incentiva essa prática
Aprendiz de umbanda
Entenda como uma pessoa
comum pode se tornar médium e incorporar entidades
1. Quem tem interesse em ser mais que um observador da umbanda pode
ir às giras e esperar que a entidade incorporada o identifique. A entidade
aponta a "vocação" da pessoa: médium de incorporação, ogã (quem toca
os instrumentos) ou um cambone (auxiliares dos médiuns)
2. Os que serão médiuns frequentam as giras de desenvolvimento
mediúnico, sessões de iniciação fechadas ao público, nas quais os ogãs entoam
cânticos chamando a entidade espiritual. O iniciante medita sobre as vibrações
do dia e realiza banhos de ervas e oferendas para o orixá
3. Quando o iniciante começa a incorporar, ele entra na "fase de
firmeza", em que, incorporado, risca símbolos no chão, acende velas e
conversa com o sacerdote sobre sua forma de trabalho
4. Agora o iniciante já pode aplicar "passes energéticos"
em roupas e objetos e imantar água. Em seguida, ele passa a poder aplicar os
passes em crianças e, enfim, é inserido na linha de atendimento das giras
públicas. Em geral, a iniciação termina depois de alguns meses
Festa no Ilê
Cerimônia do candomblé
tem sacrifício de animais, farofa e até cachaça
1. Os procedimentos começam à tarde, com o despacho de Exu, fechado
ao público. São sacrificados dois animais (uma ave ou um animal de quatro
patas, como bode, para Exu e outro para o orixá homenageado do dia). O sangue
dos bichos é derramado sobre o assentamento (ou seja, o "altar") do
orixá, em oferenda
2. Os membros se reúnem em círculo no barracão, conhecido como ilê, onde
também há uma vasilha com farofa com dendê, feijão ou inhame e um copo com água
ou cachaça. São feitos cânticos e orações e um filho de santo leva parte da
comida para fora do barracão, em
oferenda. A porta é batizada com bebida, já que Exu é o deus
dos cruzamentos
3. No fim da tarde, começa o toque, a cerimônia pública. Ao som de
atabaques, são entoadas as cantigas de xirê, que homenageiam os orixás. Os
filhos de santo entram na roda, um a um, em ordem - o filho de Ogum é sempre o
primeiro. Começam as incorporações. Os filhos de santo estremecem, sinal de que
a entidade foi incorporada
4. O primeiro a incorporar é sempre o orixá homenageado. O filho ou
filha que incorporou o orixá assume o comando da festa, dançando e curando
doentes. São auxiliados pelas equedes (ajudantes). Aos poucos, os outros orixás
incorporam também
5. A um sinal do babalorixá (pai de santo), os filhos se retiram para
uma sala onde se vestem com os trajes dos respectivos orixás. Cada orixá tem
uma roupa que difere nas cores e nos acessórios, como a espada de Ogum. Quando
voltam, já como divindades, todos ficam em pé para recebê-los
6. Os orixás também voltam em ordem, com exceção do homenageado da
noite, que entra primeiro. Quando todos já entraram, cada orixá incorporado
dança sozinho para uma música tocada só para ele, utilizando toda a área do
barracão. Um por vez, todos os orixás fazem sua dança
7. Ao som dos instrumentos, o orixá senta e começa o atendimento,
abençoando e tocando os presentes, além de dar passes. Por volta da meia-noite,
os atabaques tocam as cantigas de Oxalá, encerrando a festa. Feito isso, partes
dos animais sacrificados são servidas em um jantar feito no barracão.
A grande família
Conheça os orixás mais
cultuados nos terreiros
Oxalá
É o orixá da criação e "chefe" de todos os orixás no
candomblé
Ogum
Orixá que manipula e forja metais para fazer suas armas
Obaluaiê
Associado à morte e à passagem para o plano espiritual
Oxumaré
É o orixá dos ciclos, dos movimentos e do arco-íris
Oxum
Orixá feminino, é a patrona das águas doces - rios, lagos e
cachoeiras
Nanã
A mais velha dos orixás protege os pântanos e as chuvas
Exu
Protetor dos caminhos entre o mundo material e o espiritual
Oxóssi
Orixá da caça, da fartura e da riqueza, é o senhor da floresta
Oçaim
Orixá das folhas sagradas e das ervas medicinais
Xangô
Representa o fogo, o trovão e a justiça. Tem um aspecto viril
Iansã
Orixá dos ventos e das tempestades, é uma entidade passional
Iemanjá
A orixá dos mares e oceanos. É mãe de alguns orixás
Aprendiz de Candomblé
Entenda como uma pessoa
comum pode se tornar filho de santo
1. Durante uma festa, a pessoa "bola no santo", tendo
tremores que indicam que deve ser iniciada no candomblé. O abiã (iniciante)
geralmente veste branco
2. O bori é a cerimônia em que o iniciante faz oferendas para o
orixá. Ele também sacrifica aves, como pombos, e depois é marcado com o sangue
dos animais
3. Durante 21 dias, o iniciante se recolhe a um quarto chamado roncó.
Lá, ele aprende danças, orações, mitos e detalhes sobre seu orixá. Ele não bebe
álcool e não conversa
4. O recolhimento é encerrado com o sacrifício de um animal
quadrúpede. Ao final, ocorre uma festa chamada orô, em que os abiãs saúdam os
presentes, depois dançam e finalmente incorporam seu orixá em público
Divindades são chamadas
com instrumentos de percussão
Os instrumentos tocados pelos ogãs são, principalmente, atabaques,
espécies de tambores que ditam o ritmo da dança. Outros instrumentos bastante
usados são o agogô, que traz dois funis metálicos, tocados com uma vareta de
ferro, e o xequerê, que é uma semente de cabaça cercada por uma rede de malha
com contas, tocada como se fosse um chocalho. O instrumento macumba, que deu
nome ao culto, hoje pouco utilizado, é parecido com um reco-reco